12 de agosto de 2011

14 horas e Udaipur

É tempo de continuar… Jaisalmer vai ficar para trás e o deserto também. No dia 14 à noite já temos a reserva do comboio de Udaipur para Agra. Portanto, Udaipur é o destino que se segue. Para percorrer os cerca de 700km que ligam Jaisalmer a Udaipur há duas alternativas: ou de táxi privado ou de autocarro. Na primeira opção cobram-nos 6/7 Rps ao km ida e volta, ou seja, cerca de 8400 Rps (145€!!), demasiado! Procuramos durante estes dias um preço mais acessível até porque nos diziam que há táxis a vir de Udaipur para cá e a voltar vazios, e, sendo assim, poderíamos pagar entre 2600 a 3000 Rps. No entanto, o tempo vai passando e nada nos surge por um preço acessível… O mínimo foi de 4000 Rps… e lá fomos de autocarro. O que nos esperava era certamente muitas horas na estrada, entre 10h a 14h, já que quer os guias de viagem ou os blogs na net sugeriam isso mesmo. No dia de ontem uma Holandesa contava que demorou cerca de 8 horas no sentido inverso… a ver vamos…

Parte I: (15h30, dia 11/8) hora da partida, o autocarro era grande, e dividia-se em duas partes: uma primeira com assentos, ao longo do corredor central no primeiro “andar”, e uma outra com compartimentos (camas) individuais e duplos, num segundo “patamar”. Ficamos com um duplo e um single. Ao procurar os respetivos lugares verifico que as ditas camas estão cheias de areia e sujas, muito sujas… “inabitáveis” para sentar quanto mais para deitar… olhámos uns para os outros e pensámos… “vai ser bonito vai, vai...”

Depois de conseguir “vedar” o dito lugar com a minha toalha… tento acomodar-me da melhor maneira e vou olhando pela janela à medida que o autocarro começa a longa jornada… Deserto, deserto, deserto… é o que olhos alcançam. Não obstante, o autocarro vai parando, sobem mais uns quantos passageiros,e, para novamente, sempre que alguém acena na estrada o ritual repete-se, sai o “cobrador” e o candidato a passageiro comunica o local de destino, segue-se uma negociação… na maioria das vezes acertada… e assim, lá vai entrando e saindo gente. A viagem até Jodhpur (primeiro grande centro urbano onde efetuamos uma paragem mais longa) é feita assim sem grandes sobressaltos… Chegamos pelas 21h30… ufff… já passaram seis horas!!

Parte II: Estamos cerca de meia hora e voltamos há estrada… O autocarro continua cheio, digo, quer nos lugares, quer no corredor, não sobrando mesmo espaço para encomendas que depositaram aquando da partida… o parar, entrar, negociar continua… mas desta vez não vejo muito gente sair, quase nenhuma… pergunto-me, onde cabe esta gente toda? Idosos, crianças, grávidas, encomendas, caixas, sacos… tudo cabia… mas onde?!!? O lugar onde estávamos, era uma cabine fechada, e assim, só quando aberta essa janela conseguia-mos ter uma visão do corredor na sua totalidade… Já de noite, voltamos a parar no meio do nada onde estrategicamente estava localizado um estabelecimento a céu aberto com um restaurante… era a junção de duas estradas e ali estavam mais de que dois autocarros parados… Abro então a minha janela da cabine e tenho uma visão aterradora para o corredor…” Como vou sair daqui?” pergunto-me! Não havia alternativa senão pisar ou passar por cima de gente, caixotes, encomendas…!!! Começo a minha aventura dentro do autocarro e demoro uns bons quatro minutos a percorrer o seu corredor… por entre sacos, idosos, crianças, mães com bébés ao colo, tudo fui encontrando… olhavam para mim como se de um ET fosse e lá davam um jeitinho para eu ir passando…

Procuro cá fora qualquer coisa para comer… mas não consigo… compro uma cola dois pacotes de batatas fritas e fico ali de pé observar o que se ia passando… É nisto quando olho para o espaço entre dois autocarros e vejo duas senhoras descontraidamente a abandonarem um dos bus, percorrem três/quatro metros daquele espaço, dobram os joelhos, posição de cocaras, e aqui vai, em pleno espaço, “regam” até não puder mais… viro costas para não ser mal interpretado mas fico perplexo para a vida! É que, como eu, estavam ali cerca de seis, sete homens que com a maior naturalidade olham para o sucedido como se fosse uma situação normal… pois de facto seria… Eu, demoro mais três minutos a regressar ao meu lugar e estupefacto ainda fico quando dou por mim a pensar naquilo que vi e vejo… Recomeça a viagem, consigo fechar os olhos um pouco e acordo com frio já quase a chegar a Udaipur… São quase 5h da manhã, e no total vão ser 14 horas desde que começou esta aventura… Estamos muito, muito cansados, aterrados, de rastos, … mas finalmente, Udaipur!

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